21 de julho de 2008

Com licença

Uma das conversas que costumo ouvir no PC é sobre a animação da Praça: Que era giro haver músicos e engraxadores e ardinas... mas é preciso a licença. Licença?! Sim licença, um músico não pode começar para aí a tocar na rua sem ter uma licença. As gargalhadas que se ouvem a seguir escondem a condenação desta cidade, deste povo que pede desculpa por existir e licença para ser feliz. Quanto à primeira, não tenho explicação para esta sensação colectiva de sermos um erro de casting do criador, até ouvimos a sua voz omnipotente em surround, a olhar para nós desapontado: "Bolas, não era nada disto que eu queria fazer...".
Quando à segunda, pedir licença para ser feliz, já tenho algumas hipóteses. 1) Será a nossa mentalidade judaico-cristã que nos impede de ser felizes sem penitência e a burocracia da licença é apenas uma resposta terapêutica para esta nossa necessidade de ordália? 2) Será uma forma de controle, se não tivessemos de pedir licença havia para aí musicos a tocar por todos os cantos e nem nos conseguiamos ouvir com tanto acorde, modinha e sinfonia? Uma explosão de felicidade insuportável? 3) Será para ocupar os senhores dos serviços que se não passassem as licenças íam para o desemprego? (Esta acho que não é verdade, porque com a redução de pessoal, o único funcionário das licenças tem envelopes para lamber em atraso porque teve aftas na última semana.) 4) (A última até parece mal e não quero que lhe dêm muita atenção) Será para ganhar uns cobres com o que se paga nas licenças?

Acreditando que há um racional pertinente que justifica que um músico tenha que ter licença para tocar na rua, dou-vos licença para darem a vossa opinião. Agora, com licença, mas tenho de ír.

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